terça-feira, 16 de janeiro de 2018

COERÇÃO COMO SOLUÇÃO

            O Brasil tem um posicionamento coercitivo, no qual toda ação errada cometida por um cidadão é punida, em forma de multa, prisão, ou pena alternativa. Mesmo o que deveria ser uma proposta de conscientização, como grupos de encontros com agressores ou infratores, em geral são impostos por um juiz e igualmente interpretados como uma punição.



            Creio que nosso país tem dado demonstrações bastante claras de que esse método não está apresentando grande eficiência. Mas tomemos aqui como consideração, os casos que supostamente funcionam, aqueles nos quais a incidência de casos diminui, com a coerção. Para explorarmos melhor isso, tomaremos como exemplo alguns países da Europa os quais não listarei nomes, mas que tiveram uma diminuição significativa nos índices de assédio contra mulheres, após adotarem medidas coercitivas mais intensas contra esse crime.
            Sabemos que no Brasil, temos casos de assédios contra mulheres às centenas diariamente, alguns verbais, outros físicos. Na Europa, isso já foi combatido em alguns países que penalizaram mais severamente o crime, mas questionemos o como e a que preço. Uma coisa muito estranha a estrangeiros que visitam nosso país, é a forma de cumprimentarmos pessoas que nem conhecemos e ainda mais, o fato de abraçarmos pessoas que acabamos de ser apresentados. O hábito de beijar no rosto então? Para alguns estrangeiros isso é quase um atentado. Alguém já se perguntou o por quê eles agem tão diferente em seus países? Uma das coisas mais ditas por brasileiros que estão na Europa, é que sentem saudade desse afeto humano, dessa coisa de poder puxar conversa com qualquer estranho no ponto de ônibus.
            Podemos presumir que a posição mais reservada e poderia se dizer até mesmo fechada dos europeus, não é resultado da violência urbana ou criminalidade, pois até onde sabemos, seus índices de criminalidade costumam ser menores que os nossos. Então por quê eles nem mesmo costumam dizer bom dia, a um estranho? Uma das hipóteses que deve ser considerada, é que a coerção foi tão intensa nesses países, que as pessoas têm medo de dirigir a palavra a outra, que não seja em ocasiões de necessidade. Afinal, eu posso dizer bom dia a alguém e essa pessoa acreditando que minhas foram agressivas me processar. Parece exagero, mas existem relatos de brasileiros que residem em outros países que corroboram essa hipótese.
            O combate ao racismo, assédio, e outras formas de violência é tida como eficiente nesses países, mas o preço é justamente a sociabilizarão. E eu pergunto a ideia de combater esses crimes, não é exatamente possibilitar um convivo social mais saudável? Temos altos índices de depressão e suicídio nesses países. Claro, existem fatores climáticos favorecedores, mas realmente alguém ousaria dizer que não há influencia social nesse adoecimento? Mas se há fatores sociais, por quê? Afinal, não são países sem assédio, com emprego para todos?! Por que alguém quer se matar em um país como esse?
            Na psicologia, Skinner se consagrou como um dos grandes nomes, a estudar a coerção como forma de moldar o comportamento de animais de varias espécies, estendendo suas descobertas ao ser humano. Ao longo de seus estudos, esse autor comprovou que a punição é completamente ineficiente no ato de moldar o comportamento. Que o individuo apenas deixa de emitir determinado comportamento, na presença do agente punitivo, mas que em sua ausência, manterá o comportamento e em certos casos, inclusive intensificará. Por exemplo, o radar não faz com que o motorista ande com mais cautela e na velocidade da via, faz com que ele diminua a velocidade no radar, para acelerar novamente, logo em seguida, ou seja, ele somente inibe o comportamento, na presença do agente punitivo (radar), mas não aprendeu nada, a não ser, como burlar o agente punitivo, seu comportamento não foi moldado, ele não aprendeu que dirigir em alta velocidade pode causar acidente, ele aprendeu apenas que tem de encontrar um modo de não ser punido, mesmo continuando a cometer a infração.
            Retomemos o nosso exemplo da Europa, as pessoas assediam menos, porque respeitam seus semelhantes como humanos iguais, ou para não serem presos e processados? O temos da punição é de fato eficiente? Sendo que ele gera o custo do convívio e relacionamento social? Na ausência da lei, ou suas representações, essas pessoa manterão a postura de não assediar e nem desrespeitar as outras?
            Na mesma referida Europa, existem países cujo a língua oficial não é o inglês, nos quais se um estrangeiro pedir informações em inglês, é completamente ignorado, sendo que apesar de não ser a língua oficial, boa parte da Europa é fluente em inglês. Essas pessoas deixaram de ser preconceituosas, ou apenas manifestam de outro modo seus preconceitos?
            Muitas vezes um empresário não fala mal de negros, porque sabe que corre o risco de ser prezo, mas quando observamos seu quadro de funcionários, de cem funcionários brancos, não existe um único negro na folha de pagamento.
            Queremos pessoas medrosas, que deixam de cometer crimes apenas quando vigiadas, e encontram outros modos de cometê-los camufladamente, ou pessoas conscientes de suas atitudes?
            Claro que somente um completo tolo acreditaria que defendo aqui, a falta de punição, afinal, podemos não evitar a agressão indireta e camuflada, mas evitar a declarada, já é um passo, porém um passo muito curto e que não nos levará em direção de grande proveito. Temos que fortalecer a conscientização, investir mais em um povo que tenha claro o fato de ter um semelhante a sua frente, alguém que merece o mesmo respeito que ele, pessoas capazes de analisar as consequências de suas atitudes na vida do outro. Precisamos de pessoas que saibam pensar e não pessoas medrosas.


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