domingo, 28 de janeiro de 2018

DIREITO A OPINIÃO.


   Tem sido até mesmo cansativo a frequência com a qual venho repetindo, que o direito a opinião, não é permissão para falar qualquer bobagem que vem a mente. Mas creia, se me repito a tal modo, é exclusivamente por se fazer necessário.
   Parece que as pessoas ainda não entenderam o que de fato é opinião e qual a responsabilidade envolvida em emiti-la. Opinião, não falar o que você acha de algo, isso é achismo e eu costumo afirmar, opiniões não estão perdidas por ai, para você achá-las. Opinião é um parecer emitido sobre determinado assunto, após uma síntese de tudo que você leu, estudou, experienciou e analisou a respeito. Obviamente que para isso é preciso que você de fato tenha lido, estudado, experienciado e analisado a respeito do tema de sua opinião.
    Achar que direito a opinião é a possibilidade de falar qualquer porcaria que vem a mente, é o mesmo que acreditar que direito a liberdade é poder tirar a vida de outra pessoa sem consequências.
  O direito a livre expressão e opinião foram defendidos e estabilizados em nosso país, em um período de pós-ditadura. No período ditatorial do Brasil, o simples fato de você ler e estudar determinados assuntos que poderiam colocar o regime em questão bastava, para que você desaparece-se misteriosamente. Nessa época muitas pessoas foram mortas pelos livros que tinham em casa. Muitas músicas foram censuradas, não porque faziam apologia à violência, ou pregavam a queda do regime militar, mas pelo simples fato, de que expunham a fome, a miséria e a corrupção no país. Nesse período, mesmo uma pessoa estudando, conhecendo e tendo provas da corrupção, violência e criminalidade do próprio governo, não podia abrir a boca para falar nada a respeito, pois como dito, só o fato de uma pessoa saber de tudo isso, já era o suficiente para ser eliminada.
    Foi nesse ambiente de hostilidade e homicídios, que grupos de artistas, estudantes e simpatizantes da liberdade, lutaram pelo fim da ditadura e pelo direito a liberdade de expressão, sem censura. Para que pudessem manifestar aquilo que estudavam e conheciam. Por isso é muito desonesto, você usar como desculpa o direito a liberdade de expressão e opinião, para desrespeitar pessoas ou grupos. Direito a livre opinião, é a garantia de poder estudar e falar abertamente sobre aquilo que estudou, sem ser morto por isso. Não é uma autorização para sair falando qualquer merda. Então nunca faça uma afirmação preconceituosa, racista ou homofóbica, afirmando “Essa é minha opinião”, não. Essa não é a sua opinião, é um crime cometido por um imbecil, que não tem noção do que de fato é opinião e o quanto ela custou a nossa sociedade. Centenas de pessoas foram mortas, para que hoje pudéssemos discutir política em praça pública sem sermos torturados e mortos.
    Nunca ouse, falar qualquer asneira sobre o que você não leu, não experienciou e não conhece. Cada palavra que você fala em público tem o preço de centenas de vidas perdidas, na luta pelo seu direito a falar. Em respeito a essas vidas, repense o valor do que é dito.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

COERÇÃO COMO SOLUÇÃO

            O Brasil tem um posicionamento coercitivo, no qual toda ação errada cometida por um cidadão é punida, em forma de multa, prisão, ou pena alternativa. Mesmo o que deveria ser uma proposta de conscientização, como grupos de encontros com agressores ou infratores, em geral são impostos por um juiz e igualmente interpretados como uma punição.



            Creio que nosso país tem dado demonstrações bastante claras de que esse método não está apresentando grande eficiência. Mas tomemos aqui como consideração, os casos que supostamente funcionam, aqueles nos quais a incidência de casos diminui, com a coerção. Para explorarmos melhor isso, tomaremos como exemplo alguns países da Europa os quais não listarei nomes, mas que tiveram uma diminuição significativa nos índices de assédio contra mulheres, após adotarem medidas coercitivas mais intensas contra esse crime.
            Sabemos que no Brasil, temos casos de assédios contra mulheres às centenas diariamente, alguns verbais, outros físicos. Na Europa, isso já foi combatido em alguns países que penalizaram mais severamente o crime, mas questionemos o como e a que preço. Uma coisa muito estranha a estrangeiros que visitam nosso país, é a forma de cumprimentarmos pessoas que nem conhecemos e ainda mais, o fato de abraçarmos pessoas que acabamos de ser apresentados. O hábito de beijar no rosto então? Para alguns estrangeiros isso é quase um atentado. Alguém já se perguntou o por quê eles agem tão diferente em seus países? Uma das coisas mais ditas por brasileiros que estão na Europa, é que sentem saudade desse afeto humano, dessa coisa de poder puxar conversa com qualquer estranho no ponto de ônibus.
            Podemos presumir que a posição mais reservada e poderia se dizer até mesmo fechada dos europeus, não é resultado da violência urbana ou criminalidade, pois até onde sabemos, seus índices de criminalidade costumam ser menores que os nossos. Então por quê eles nem mesmo costumam dizer bom dia, a um estranho? Uma das hipóteses que deve ser considerada, é que a coerção foi tão intensa nesses países, que as pessoas têm medo de dirigir a palavra a outra, que não seja em ocasiões de necessidade. Afinal, eu posso dizer bom dia a alguém e essa pessoa acreditando que minhas foram agressivas me processar. Parece exagero, mas existem relatos de brasileiros que residem em outros países que corroboram essa hipótese.
            O combate ao racismo, assédio, e outras formas de violência é tida como eficiente nesses países, mas o preço é justamente a sociabilizarão. E eu pergunto a ideia de combater esses crimes, não é exatamente possibilitar um convivo social mais saudável? Temos altos índices de depressão e suicídio nesses países. Claro, existem fatores climáticos favorecedores, mas realmente alguém ousaria dizer que não há influencia social nesse adoecimento? Mas se há fatores sociais, por quê? Afinal, não são países sem assédio, com emprego para todos?! Por que alguém quer se matar em um país como esse?
            Na psicologia, Skinner se consagrou como um dos grandes nomes, a estudar a coerção como forma de moldar o comportamento de animais de varias espécies, estendendo suas descobertas ao ser humano. Ao longo de seus estudos, esse autor comprovou que a punição é completamente ineficiente no ato de moldar o comportamento. Que o individuo apenas deixa de emitir determinado comportamento, na presença do agente punitivo, mas que em sua ausência, manterá o comportamento e em certos casos, inclusive intensificará. Por exemplo, o radar não faz com que o motorista ande com mais cautela e na velocidade da via, faz com que ele diminua a velocidade no radar, para acelerar novamente, logo em seguida, ou seja, ele somente inibe o comportamento, na presença do agente punitivo (radar), mas não aprendeu nada, a não ser, como burlar o agente punitivo, seu comportamento não foi moldado, ele não aprendeu que dirigir em alta velocidade pode causar acidente, ele aprendeu apenas que tem de encontrar um modo de não ser punido, mesmo continuando a cometer a infração.
            Retomemos o nosso exemplo da Europa, as pessoas assediam menos, porque respeitam seus semelhantes como humanos iguais, ou para não serem presos e processados? O temos da punição é de fato eficiente? Sendo que ele gera o custo do convívio e relacionamento social? Na ausência da lei, ou suas representações, essas pessoa manterão a postura de não assediar e nem desrespeitar as outras?
            Na mesma referida Europa, existem países cujo a língua oficial não é o inglês, nos quais se um estrangeiro pedir informações em inglês, é completamente ignorado, sendo que apesar de não ser a língua oficial, boa parte da Europa é fluente em inglês. Essas pessoas deixaram de ser preconceituosas, ou apenas manifestam de outro modo seus preconceitos?
            Muitas vezes um empresário não fala mal de negros, porque sabe que corre o risco de ser prezo, mas quando observamos seu quadro de funcionários, de cem funcionários brancos, não existe um único negro na folha de pagamento.
            Queremos pessoas medrosas, que deixam de cometer crimes apenas quando vigiadas, e encontram outros modos de cometê-los camufladamente, ou pessoas conscientes de suas atitudes?
            Claro que somente um completo tolo acreditaria que defendo aqui, a falta de punição, afinal, podemos não evitar a agressão indireta e camuflada, mas evitar a declarada, já é um passo, porém um passo muito curto e que não nos levará em direção de grande proveito. Temos que fortalecer a conscientização, investir mais em um povo que tenha claro o fato de ter um semelhante a sua frente, alguém que merece o mesmo respeito que ele, pessoas capazes de analisar as consequências de suas atitudes na vida do outro. Precisamos de pessoas que saibam pensar e não pessoas medrosas.