domingo, 9 de julho de 2017

AS PRIMEIRAS PALAVRAS DE UMA SURDO CEGA.

João Vitor Wrobleski.
Trabalho entregue a professora mestre:
Andressa Fernanda Augustin
como requisito de nota parcial na matéria de
Psicologia da Pessoa Portadora de Deficiência.

AS PRIMEIRAS PALAVRAS DE UMA SURDO CEGA.

O Filme: Helen Keller e o Milagre de Anne Sulivan retrata a história de vida de Helen Adams Keller nascida em: Tuscumbia, 27 de junho de 1880 e falecida em: Westport, 1 de junho de 1968. Uma menina surda cega, que superando os impedimentos tornou-se uma escritora, conferencista e ativista social, sendo também a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado.
A menina inicialmente nascera sem nenhum tipo de impedimento, mas após uma forte febre teria ficado surda e cega ainda muito jovem, o completo isolamento de comunicação, faz com que seus cuidadores percam completamente a possibilidade de educar a menina, desse modo sem realizar uma castração efetiva, a criança se torna birrenta e extremamente difícil de conviver, levando os pais a levantar possibilidades drásticas como o internamento em um asilo. Por apelo da mãe da menina, decidem realizar uma tentativa de ensinar a menina ao menos alguma comunicação básica que tornasse seu convívio suportável a família. Para essa tarefa, contratam uma professora, Anne Sullivan, que tem a difícil tarefa de romper com a barreira comunicativa levantada entre a criança e o mundo.
Inicialmente Sullivan se utiliza de coisas já conhecidas da menina para ensinar-lhe palavras que simbolizem esses objetos. Como por exemplo uma boneca, doces... Sillivan soletra na mão da menina (linguagem de sinais) a palavra que representa o objeto e quando a menina repete o soletrado Sullivan lhe fornece o objeto. Muito semelhante ao que a função materna faz com a criança no processo de verbalização.
Mas a real dificuldade de Sullivan não seria a falta de linguagem da menina, mas sim a sua falta de função paterna, a falta de castração da menina, faz com que suas birras sejam quase insuportáveis para Sullivan, que em vários momentos demonstra claramente uma exaustão física e psíquica imensa. Mas ainda assim persiste em sua missão que se demonstra cada vez mais complexa.
Devido à falta de castração tanto da menina quanto do pai e da mãe em relação a ela, Sullivan é obrigada a convencer os pais que permitam que ela conviva com a menina fora da casa, em outro ambiente, para que desse modo, ela finalmente consiga que a menina internalize a lei, exercendo função paterna e materna de modo a fornecer a linguagem que a menina foi privada e principalmente os limites entre ela e o mundo.
Após Sullivan favorecer o desenvolvimento das instancias Eu e Eu-Superior de Keller esta finalmente consegue ser inserida no mundo simbólico, desse modo se utilizando dos sinais para comunicação.
O filme se limita a retratar apenas a aquisição da linguagem, mas posteriormente Helen Keller se destacaria por sua filosofia e engajamento politico. Através do filme podemos perceber que conforme visto em sala de aula, o impedimento é do sujeito, mas a deficiência é social, pois claramente a menina que estava fadada a ser um animal selvagem incomunicável, devido a uma deficiência de conhecimento dos pais, acaba com o estimulo correto se tornando uma notável intelectual. Os impedimentos são contornados com muito esforço e dedicação.
É notável conforme Valle e Connor (2014) nos apresentam, as sociedade em geral subestima uma pessoa com deficiência, parece completamente contraditório um deficiente com capacidades (p.39). Vemos um pouco disso no fato de os pais de Helen Keller não fornecerem castração a menina, como se uma criança surdo cega, não precisasse de regra alguma. Consideremos obviamente a completa falta de entendimento de como poderiam fazer tal castração, sendo que nem mesmo conseguiam comunicar-se com sua filha. Mesmo hoje diante de novos conhecimentos e técnicas, ainda vemos ocorrerem situações semelhantes a retratada no filme, em alguns casos os pais de fato subestimam as capacidades da criança com deficiência por não acreditarem que ela possa fazer muita coisa, em outros casos os pais parecem ignorar a capacidade da criança, por culpa ou medo. E isso acaba criando em algumas vezes, uma criança birrenta e sem autonomia, o que notavelmente a partir do filme, percebemos ter a possibilidade de ser diferente. Muitas vezes o medo e a falta de conhecimento das pessoas levam a confundir o auxiliar com fazer pelo outro, no caso de crianças isso pode gerar sérios prejuízos, por exemplo, uma criança cega que seja impedida de usar talheres porque os pais a alimentam na boca. Ela está deixando de exercitar o movimento de pinça que será útil a ela em diversas outras situações de sua vida, sendo assim o que seria apenas uma dificuldade na vida dessa criança acaba se tornando uma seria deficiência, sendo que não precisaria ser desse modo.
Também podemos perceber por Valle e Connor (2014) que a deficiência ao longo da história vem sendo vinculada a caridade e “pena”, o que facilita ainda mais que se veja a pessoa com deficiência como incapaz e “coitadinha” no caso de crianças em desenvolvimento, já discutimos anteriormente o quão pode ser danosa essa vitimização por parte da sociedade e dos cuidadores.
Na melhora da visualização das deficiências por parte da sociedade algumas pessoas tem exercido papel de destaque, os autores Valle e Connor (2014) na página 46 inclusive citam o caso de Helen Keller, como uma nova perspectiva da deficiência, pois quando personalidades como ela começam a ganhar voz, se destacando socialmente e fazendo-se serem ouvidas, a sociedade acaba tenso uma visão de deficiência por parte de pessoas com deficiência e não mais por parte de médicos e cientistas entendidos como sem deficiência alguma.
No decorrer da história uma das maiores dificuldades encontradas ao se falar de deficiência sempre foi o fato de que se falou a partir de perspectivas, que não vivenciavam a realidade de se ter limitações, quando alguns casos com o o de Helen Keller ganham destaque, possibilitam que as pessoas que vivenciam essa realidade tenham voz, isso será de grande importância, para se repensar vários aspectos da “deficiência” inclusive os termos pelos quais as próprias pessoas desejavam ser chamadas.
Sendo assim, o filme nos trás uma visão de outra realidade histórica de deficiência, mas sendo o relato de um caso real, também nos auxilia a repensar vários aspectos da construção histórica da deficiência. E uma grande pergunta fica, tomando o filme por base, se Helen fosse filha dos negros empregados da fazenda e não do dono, ela chegaria a um por cento de onde chegou? Almenos teria sido dada a ela a chance de se comunicar de algum modo?

REFERÊNCIA:

VALLE, J. W; CONNOR, D. J. Resignificando a deficiência: Da abordagem social as práticas inclusivas na escola. Porto Alegre AMGH, 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário