terça-feira, 18 de julho de 2017

EPICURO E O PRAZER

Assim como Freud foi mal interpretado ao falar em sexualidade, pois seus contemporâneos recalcados, só podiam conceber a sexualidade por meio do ato sexual, assim também quando Epicuro fala em prazer, é inconcebível a seus contemporâneos pensar a obtenção de prazer desvinculada da promiscuidade, prostituição e bebedeira. Desse modo, o filosofo acaba recebendo a fama de porco da filosofia, sendo atribuído a ele a promoção de orgias em seu jardim. Ironicamente, a filosofia epicurista justamente se opõe as ideias de prazeres da luxuria e extravagância, sendo que o prazer defendido pelo filósofo consiste justamente no prazer pelas coisas simples e cotidianas.
A filosofia epicurista, não visa viver em busca do prazer, mas sim, reinterpretar as vivências, de modo a torna-las prazerosas. Ou seja, mudando a forma como você vê a vida, e não mudando a vida.

Para conhecer melhor sobre Epicuro e a sua filosofia do prazer, assista ao vídeo.



sábado, 15 de julho de 2017

SOBRE SAÚDE

A partir de diversas perspectivas pode-se entender a saúde e doença de maneiras variadas:
Saúde = vigor, bem-estar, força; Definição corriqueira inclusive ao senso comum.
Saúde = ausência de doença; Visão biomédica que define por excelência o que não é saúde ao invés do que de fato ela o é. Além de ter um enfoque maior na doença do que no sujeito em si. Preocupa-se em remover a doença, sem dar à devida atenção a relação estabelecida entre essa doença e o sujeito. Também desconsidera a relação da doença com a vida desse sujeito, com seu contexto sociocultural. O que por sua vez acaba gerando situações como um individuo que não adere ao tratamento, porque existem questões culturais ignoradas que não o permitem, ou nos casos por exemplo de HIV/AIDS que o individuo não segue o tratamento por motivos sociais estigmatizados que por vezes são desconsiderados pela área da saúde. 
Saúde = completo estado de bem estar físico, psíquico e social; Utópico, se considerarmos o completo bem estar, ninguém se encontra em tal estado. Mas ainda assim é mais abrangente que as definições anteriores.
Saúde como equilíbrio; Visa um fim ignorando o processo, é como se um sujeito somente pudesse estar saudável quando atinge o equilíbrio, durante todo esse processo ele então seria um “sujeito doente”?
Saúde como criação de novas normas (Canguilhem) Nesse entendimento a saúde deixa de ser uma finalidade e até mesmo um silêncio dos órgãos. Deixa-se de lado ideias do que a saúde não é e também de ser uma finalidade quase inalcançável, a saúde torna-se um processo de adaptação e construção aos novos imprevistos impostos. 
Em uma visão mais abrangente se entende a necessidade de estudar a doença e saúde não como um conceito estagnado e imutável, mas sim como uma definição maleável que considere os vários aspectos culturais, sociais e econômicos, de cada sujeito como singular, único, porém dentro de todo um contexto construído por ele e que o constrói.
EX: A loucura entendida em contexto hospitalar clínico é o milagre de algumas religiões.
Também se faz necessário compreender a construção histórico sociocultural da “doença”. A própria loucura ao longo da história teve diversos olhares lançados a sua compreensão, como um desarranjo orgânico (Hipócrates), como uma maldição de deus ou possessão demoníaca (idade das trevas ou medieval) no mesmo período ainda também vista como bruxaria em alguns casos. Posteriormente se deixou de exterminar esses sujeitos, para promover uma exclusão social, já não se queimava-os vivos em fogueiras, mas os trancafiamos em grande depósitos de “loucos” aos quais chamamos por diversos nomes: Hospícios, manicômios, hospitais psiquiátricos; mas assim como dor, mal estar, incomodo, patologia, podem ser utilizados para definições semelhantes, do mesmo modo todos os nomes dados a esses depósitos de pessoas, traduzem em resumo exclusão social do que não damos conta de compreender. O louco deixa de ser um incomodo social, no momento que não mais faz parte da sociedade. Somente na atualidade se adquire um conceito de tratar o sofrimento psíquico como um ato de reinserção social, analisando toda a construção histórica da ideia de loucura, nos fica claro aspectos de vários discursos estabelecidos socialmente. Como o popular: “Por que ainda não internaram esse incomodo?” 
Analisemos agora a construção social de outro entendimento de doença. “Chega a São Paulo a temida peste gay” Não, não é piada com o time de futebol. Como será a construção social do conceito de uma doença que é anunciada a população desse modo? Ao longo de anos as formas de primeiras apresentações sociais da AIDS geraram mais estragos do que o próprio vírus HIV, contribuíram para o preconceito e exclusão social. Também construíram para alguns a falsa visão de imunidade, sendo considerada como uma peste de gays e prostitutas, todos fora do quadro considerado de risco sentiam-se seguros, como se não pudessem ser contaminados, o que certamente contribuiu de maneira eficiente para a maior proliferação do vírus, já quem não estava dentro do quadro de risco, não via necessidade em se proteger. E quando analisamos o contexto histórico da época, entendemos melhor, questões como o fato de existir um preconceito, e ideia de exclusão social de gays maior do que é a atual. Percebemos possíveis jogos de interesses, em culpar a um grupo por essa nova doença. Isso fica mais notável ainda analisando as primeiras campanhas realizadas.
A partir disso nos fica mais clara certas relações sociais construídas acerca da AIDS e desse modo, podemos entender as relações sociais estabelecidas, com cada uma das doenças existentes, das mais comuns até as mais raras, assim como as relativamente comuns, mas que tem uma relação social de grande impacto, como é o caso da lepra. Uma doença que assim como a loucura, gerou grande exclusão social. Consideremos que estamos falando de uma doença altamente contagiosa, em um período onde não havia cura, esse contexto criou leprosários, que assim como os manicômios cumpriram uma grande função de exclusão de um incomodo social.

As Politicas Públicas.

A politica pública consiste em um arranjo do Estado para atender a demandas socioeconômicas do território. Não trata-se de favor a população como muitos pensam e relatam. O Estado nada dá, ele apenas converte uma arrecadação de imposto, em retorno social para questões de uso comum, ou necessidades que de outro modo não seria acessível a maioria da população, gerando prejuízos para o estado. Por exemplo: Para o Estado se manter, precisa de arrecadação de impostos, para arrecadar imposto, precisa de trabalhadores, por tanto é de interesse do Estado ter pessoas saudáveis em seu território, pois do contrario não tem pessoas trabalhando, não arrecadando imposto, levando a uma falência do estado.
Há uma relação de interesses intrínseca ao convívio social, igualmente ocorre uma relação do gênero com o Estado.
Politicas públicas sempre envolvem um forte jogo de interesses, sejam estes lícitos, como a manutenção do Estado através de arrecadação de impostos, a formação de novos profissionais para o mercado de trabalho, ou interesses ilícitos, como propinas e benefícios individuais em detrimento do bem coletivo.
Mas lembremos sempre, que neste jogo de interesses, somos parte fundamental, não apenas como usuários dos sistemas públicos, mas também como parte construtora dos mesmos.
O SUS por exemplo, que consiste em um Sistema Único de Saúde, foi construído por participação direta de movimentos sociais. Antes da construção desse sistema único, a saúde era uma bem de direito restrito, apenas tinha acesso a ela a partir de INANPS, quem tinha um emprego registrado, deixando assim descoberto de assistência uma grande parte da população, através de pressão popular, se instituiu a partir da lei 8.080 e 8.142 de 1988 a saúde como um direito disponível a todos, teoricamente sem exclusão.
A partir de então, após a lei de 1988, a saúde não mais é responsabilidade do sujeito, mas sim do Estado. Nessa construção tivemos a participação ativa dos cidadãos, mas o que muitos desconhecem, é o fato de que essa participação deve ser permanente e não apenas durante a construção, é uma participação a qual foi conquistada pela lei 8.142, que garante o direito ao usuário da politica de SUS, construir alterações no sistema ao longo do seu uso. Essas alterações podem ser construída a partir de reclamações e sugestões mediante setores responsáveis, mas pode mais ainda, contar como uma participação efetiva na solução de dificuldades, pois o sistema é alterado através de processos aos quais todos tem o direito de participar ativamente.

Premissas estabelecidas para o funcionamento do SUS

Saúde como direito de todos e dever do Estado; Significa que incumbimos o Estado de se responsabilizar pela saúde da nação e através dos impostos que pagamos sustentamos essa prática, por isso saúde não é favor do Estado, mas sim obrigação.
Descentralização (poder, recursos, gerenciamento e execução); A ideia de descentralização, parte de uma noção de tornar os recursos mais acessíveis ao máximo de pessoas possível, não apenas de um território demarcado, mas sim de uma grande região atendida através de vários pontos difusos. 
Universalização (um SUS para todos); uma ideia de serviço disponível para toda a população territorial, estando empregada ou não, sendo de qual etnia e credo for, sendo de qualquer posição politica, social, religiosa ou não religiosa. 
Hierarquização da rede assistencial; Uma proposta de finalidade a agilizar o atendimento, que infelizmente nem sempre é respeitada, nem por gestores nem por usuários. A intensão de ter hierarquias de complexidade, visa resolver logo nos serviços básicos o que é de solução básica, subindo a complexidade de acordo com a necessidade, sendo assim, somente chegaria nos níveis mais complexos e caros, aqueles casos que de fato precisassem, gerando um menor custo de manutenção e menos aglomeração em serviços complexos. Infelizmente o mal uso desse sistema, acaba por diversas vezes fazendo com que o que era para ser uma vantagem se torne desvantagem.
Equidade; Uma noção de direitos iguais para necessidades iguais e direitos diferentes para necessidades diferentes, nem todos tem acesso aos seus direitos com politicas simplesmente igualitárias, para isso se propõe a noção de equidade, tratar pessoas de maneira diferente de acordo com a sua diferença. Em um exemplo simples, mas plausível: Eu posso afirmar que tendo um posto de saúde no bairro, ambos os vizinhos desse posto tem acesso igual a ele, pois moram ao lado, mas um desses vizinhos, tem locomoção “normal”, outro tem locomoção através de uma cadeira de rodas, se o posto de saúde tem escadarias sem uma rampa de acesso, de fato ambos tem direito de acesso igual? A pessoa que pode caminhar, e a que tem de rodar? Nesse caso percebemos de maneira fácil que uma das pessoas tem maior acesso ao serviço do que outra, mesmo ambas estando em condições de igualdade. Nesse caso a igualdade se torna excludente, pois as pessoas não são iguais, segundo a visão de equidade eu tratarei ambos de maneira diferente, para que ambos tenham direitos iguais. Isso é equidade.
Integralidade; Ver o sujeito como um todo integral e não como pedaços de um corpo, faz parte da visão do sistema de saúde.
Participação social (mecanismos: Conselhos e Conferências de Saúde); é preciso a noção da população que ela é parte integrante da construção de melhorias nas politicas. Os conselhos e conferencias de saúde entram como uma forma de acesso da população a interferência e modificação das politicas de atendimento.

IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO NA REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Trabalho apresentado ao prof. José Jailton Camargo na disciplina de Sociologia, como requisito parcial de avaliação semestral.
  
João Vitor Wrobleski

“No capitalismo algumas pessoas se apropriam da mais valia de todos, no socialismo um único governante se apropria da mais valia, da liberdade e da dignidade de todos.”
(Wrobleski, J. V.)

Muitos escreveram a respeito de ideologia e alienação, e ambos os conceitos são utilizados com frequência no senso comum. Não é raro ouvirmos a expressão “você está alienado”. Mas de fato quem se utiliza conhece o significado deste conceito?
Se formos ver a partir de uma perspectiva Marxista, referente a Karl Marx, um dos autores que mais ficou conhecido por escrever a respeito desses dois conceitos, segundo Marx de maneira resumida, a ideologia, é um pacote de ideias, utilizado pela classe dominante para controlar a classe dominada, e quando a classe dominada “compra” esse pacote de ideias como se fosse seu, sem enxergar as realidades contidas no discurso, nessa situação podemos dizer que a classe dominada se encontra alienada. (Conforme debatido em aulas de Sociologia ministradas por: Mst. José Jailton Camargo, na UNICENTRO)
Seguindo dessa perspectiva Marxista, iremos analisar a forma como no livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, ocorre à construção de uma ideologia para alienar a classe dominada.
No referido livro, vemos que quando um líder toma o poder, muitas vezes pode idealizar o “bem do povo”, mas caso ocorra deste vir a morrer, não possui garantia alguma de que quem o substitua estará tão interessado quanto ele no povo. Isso se demonstra claro, quando Major morre na história de Orwell, restando então à liderança nas patas de dois jovens, Napoleão e Bola de Neve. E a partir de então começamos a analisar as disputas de poder e as artimanhas criadas na guerra pela obtenção do maior poder.
Após uma engenhosa e elaborada trama, Bola de Neve consegue tomar o poder para si, e pouco a pouco percebemos as deturpações que ocorrem na ideologia inicial de Major. Percebemos que o pacote de ideias pregado pela classe dominante, vai sendo moldado cada vez mais aos seus interesses e cada vez menos em função do povo.
Ao longo do livro, Orwell nos deixa bastante evidente a forma como a classe dominante molda as leis e os ideais de acordo com seus interesses, e possibilitando sempre os seus crimes impunes.
Através de seus personagens Quitéria e Sansão, Orwell nos mostra como ocorre a alienação as ideias da classe dominante. A forma como pessoas que possuem dificuldades em levantar questionamentos e analisar situações encontram um maior conforto em respostas prontas.
Um dos fatores também contribuintes para a alienação dos personagens está no fato das ameaças com necessidades básicas, conforme vemos definição da socióloga Peixoto, a respeito da alienação em Marx:
  O trabalhador é constrangido a atender suas necessidades mais imediatas, tais como: comer, beber, vestir, etc., se não o fizer porá em risco sua própria existência. Ao fazer de sua capacidade de trabalho um meio para atingir determinados fins, a sua atividade deixa de ser uma atividade livre (auto-atividade) e torna-se trabalho alienado. (PEIXOTO, p.33) 
O posicionamento de Sansão deixa bastante evidente essa alienação em função das necessidades básicas, pois se dedica ao máximo a construção do projeto do moinho acreditando que quando pronto todos terão mais alimento e monos trabalho.
É perceptível também a grande importância de ser alfabetizado para a não alienação, pois os mais suscetíveis à alienação são aqueles analfabetos, Benjamim um dos poucos leitores da classe dominada parece ser também um dos poucos que não se aliena, mas acaba por se calando devido à repressão da classe dominante.
Podemos entender aqui, o analfabetismo politico, aqueles familiarizados com a politica que estudam seu funcionamento, não permanecem alienados, já aqueles que a ignoram, aceitam tudo que lhes digam como verdade. Podemos ai também contar com as semelhanças com as ideias de Marx, o qual acredita que se o povo conhecer a verdade sobre o sistema dominante se libertará da alienação.
Uma das coisas perceptíveis na tarefa de alienação trata-se do discurso, Orwell deixa muito evidente através de seus personagens que não basta um bom “pacote de ideias”, mas se faz necessário um discurso coerente e estético, isso é bastante notável em seu personagem Bola de Neve, que possui uma fala elaborada e estética, toda “pomposa” capaz de convencer que as maiores atrocidades são coisas comuns que ocorrem. E capaz de fazer os mais tolos crerem que são animais de outra espécie.
Pudemos notar esse valor de discurso também na Alemanha em seu período nazista, onde Hitler foi capaz de vender um pacote ideológico de extermínio de raças, a uma quantidade inacreditável de pessoas.

Marx trata da ideologia utilizada no capitalismo para alienar o povo aos detentores dos meios de produção, mas quando lemos “A Revolução dos Bichos” embasado na experiência socialista da Rússia, percebemos que a alienação por uma ideologia não é problema do capitalismo, mas sim de qualquer regime politico, mais ainda no socialismo ou comunismo, pois como até o momento todas as experiências do tipo foram realizadas por ditaduras, torna-se evidente que esses são ainda mais alienantes do que o capitalismo.

EPISTEMOLOGIA EM JUNG

Trabalho apresentado à profª. 
Cesar Rey Xavier, na disciplina de 
Teoria da Personalidade,
como requisito parcial de avaliação semestral.


Como surgiu a teoria Analítica?

Uma das grandes teorias em desenvolvimento no final do século XIX inicio do XX, tratava-se da Psicanalise. Sigmund Freud, motor inicial da importante teoria psicanalítica, estava travando uma grande luta para o desenvolvimento desta, e Jung surge como seu aluno, interessado no seu trabalho. Para Freud, Jung era de grande importância em vários aspectos, primeiro que Jung era um individuo de inteligência notável, assim como Freud, possuía habilidade com diferentes línguas, tinha hábitos de leituras ricas..., as semelhanças não paravam por ai, ambos tinham apreço por arqueologia, sendo chamados posteriormente de arqueólogos da mente humana. Entre outras semelhanças, além das mais obvias claro, ambos eram médicos psiquiatras, interessados na alma humana.
As semelhanças entre Freud e Jung, gerou uma identificação entre ambos, levando-os a manter uma relação de um tempo razoável. Freud considerava que Jung seria seu sucessor, levando a diante a teoria Psicanalítica, para ele isso era de interesse, não somente pela capacidade intelectual de Jung, como também o fato de ele ser o único no circulo de Freud a não ser judeu, representar uma coisa de muito valor, em uma época onde o preconceito a judeus se fazia fortemente presente. Freud fez um razoável investimento em Jung, e quando houve a ruptura da relação entre os dois, Freud foi fortemente atingido emocionalmente.
A ruptura entre Freud e Jung, se deu por discordâncias em relação à teoria. Jung possuía uma visão muito ampla da alma humana e do mundo, via ligações entre todas as formas de conhecimento, enquanto Freud era mais sistemático, gostava de coisas mais delimitadas. Juntando isso ao fato de Jung também não ter uma aceitação da importância que Freud empreende a sexualidade, e Freud menos aceitação ainda as questões religiosas de Jung, não houve mais forma de se manter o relacionamento entre esses dois personagens. Após a ruptura com Freud, Jung passa então a desenvolver sua própria teoria Analítica, a qual sofre tanto às claras influencias de Sigmund Freud e a Psicanálise, como também terá a influencia de diversas outras áreas:

Podemos dizer que além da influencia freudiana na formação de Jung ele contava com outras influencias significativas como a de Pierre Janet, contudo, diferente de Freud e Janet, que tiravam suas conclusões através do estudo da neurose, Jung trabalhou um grande período na “área da psicose”, e, como Janet, adotava um método muito mais descritivo do que causal. Janet não procurava as causas, mas descrevia seus fenômenos criando assim a possibilidade de estabelecimento de modelos, quadros de patologia e divisões analíticas. Da mesma forma Jung seguiu por um caminho onde pudesse observar o fenômeno como se apresenta e não como pressupõe algum postulado abstrato ou personalista. (BESERRA 2015)

Além das influencias da Psicanálise e de Janet como Beserra (2015) nos trás, Jung ainda sofre influencias da alquimia, de religiões de varias regiões do mundo, da astrologia entre outros saberes. Uma das “sacadas” mais interessantes de Jung é o fato de ele chegar a ideia de que diferentes saberes tratavam de um único “evento” ou situação. A ligação entre as coisas, e dai a religião, como religação, e não algo teológico, mas sim uma necessidade de religação a algo maior (Self). Young-Eisendrath e Dawson (2002), também nos apresentam essa diversidade de conhecimentos do Jung, que ao mesmo tempo, que encantam também tornam sua teoria bastante complexa, demandando uma atenção e dedicação grande na busca de entendimento.
Ao analisar as diferentes crenças, entre elas as religiosas, Jung percebe que há pontos em comum entre elas, existem “coisas” iguais ditas de maneiras diferentes. O deus de uma religião tem equivalente em outras, símbolos comuns a varias culturas. Entre outros fatores que levaram Jung a crer que existia uma ligação comum a toda a humanidade, e quem sabe se também não uma ligação com todo o universo. Já tendo sido influenciado pelas ideias de inconsciente de Freud, Jung considera, se todos temos um inconsciente nosso, individual, por que não um inconsciente conjunto, que todos no mundo compartilhem, e que explica o fato de tantas culturas diferentes com tantas semelhanças.
Por que no Egito pirâmides? E no outro lado do mundo nas Américas, onde se tem por aceito não havendo relações entre os povos, ainda assim igualmente, pirâmides construídas no México? Qual a relação entre esses dois povos?
Segundo Jung, não somente esses dois povos, como todos os outros, compartilham de um Inconsciente Coletivo, que contem informações, símbolos e significados.
Outro dos conceitos de Jung que explica tantas semelhanças é o Arquétipo, uma “ideia” que é universal, faz parte de todas as culturas. Indiferente ao local do planeta ,se faz presente, um dos exemplos, é a imagem de salvador, onde em nossa cultura se faz mais forte em relação a Jesus, mas como podemos ver no vídeo “Jesus Cristo - A Maior Mentira da Humanidade.” Disponível em: https://youtu.be/PWBw3mNbvgw Acessado em: 06/09/2015. Ao longo dos milênios apareceram por mais vezes imagens como a dele, de um ser supremo salvador da humanidade, vemos isso no antigo Egito e em outras civilizações. Segundo Jung essa “coincidência” ocorre devido a ser um arquétipo, uma imagem universal formada, que se adapta, ou é adaptada a cada cultura. Essa imagem estaria presente em um inconsciente coletivo, ao qual todos os indivíduos e todos os povos teriam acesso, gerando assim, tais semelhanças.
Segundo Young-Eisendrath, e Dawson (2002) outra influencia que Jung teria sofrido, foi a de Kant, que segundo os autores Jung considera um precursor de sua teoria, o interesse de Kant pela parapsicologia, levaria Jung ao interesse por Kant. Sendo este, forte influencia para o desenvolvimento do conceito de arquétipo. Devido a Kant ser platônico, e como tal conservar ideias de que seguiríamos conceitos ideais, aos quais refletimos imperfeitamente.
Ainda conforme nos apontam Young-Eisendrath E Dawson (2002) outros dois filósofos de importante influência em Jung seriam Carl Gustav Caros e Arthur Schopenhauer, que renderiam a Jung as ideias de inconsciente e consciência trabalhando em conjunto e se complementando.
No final de sua vida, Jung cada vez mais demonstrou interesse pelos estudos de alquimia, influente referencia para o conceito de individuação, onde o ser que melhor se conhece, melhor conhece seus semelhantes. Acreditando este, que a alquimia era a mais forte ligação existente entre as crenças judaicas e cristãs e a psicologia moderna. Também na busca de um melhor entendimento desses laços, Jung estudou profundamente o Gnosticismo. (YOUNG-EISENDRATH E DAWSON 2002)
Tendo varias influencias culturais, e viajando por diversas partes do mundo, Jung buscou nas mais variadas culturas, correlações e interpretações possíveis, desse modo buscando uma nova visão de psiquismo humano, que privilegia-se não somente o individuo, mas sim a sua construção dentro da cultura, ainda assim, sem ignorar a singularidade de cada um. Ou seja, Jung buscou compreender o individuo em si, mas lembrando que esse individuo faz parte de algo maior, um universo, que possui ligações das mais variadas e inesperadas, a busca pela compreensão dessas ligações, moveu o desenvolvimento de seu trabalho.
Devido a seu alto nível de abrangência, a leitura de Jung não pode ser considerada como entre as mais fáceis, porem está sem duvidas, entre uma das mais abrangentes, capaz de estudar o individuo com suas singularidades e entende-lo dentro de um contexto maior.

Vídeos:

Aula de apresentação da 9a edição presencial (2015) do curso de introdução de psicologia analítica do Núcleo Português de Estudos Junguianos.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung - Parte 1 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3BiIKinQp54 Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung - Parte 2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XX7XI3pVGE8 Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung – Parte 3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jEv5bfKzEIs Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung – Parte 4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yU61Rk4gJh0 Acessado em: 27/08/2015.

Jesus A Maior Mentira da Humanidade, Parte do documentário Zeitgeist. Disponivel em: https://youtu.be/PWBw3mNbvgw Acessado em: 06/09/2015.

Blog:

Fernando Beserra
Disponível em: http://muitaluz.blogspot.com.br/2006/08/introduo-epistemologia-junguiana.html Acessado em: 22/08/2015 15:06 hs.

Livro: 

YOUNG-EISENDRATH, P; DAWSON, T. Manual de Cambridge Para Estudos Junguianos. Artmed, Porto Alegre, 2002.

SAUDOSISMO DA LOUCURA

João Vitor Wrobleski

Uma praça, um parque, brinquedos... Um banco, um velho, uma bengala... Crianças, mães, pais... Um céu, um sol, uma nuvem... Parece algodão, parece algodão, parece algodão, grita quase desesperada a menina, o menino diz: Parece um carro. A menina retruca: Não! Parece minha boneca.
Ao olhar às crianças a brincar, mais evidente ainda se torna minha velhice, os anos passam, nossas vontades mudam, nosso animo se apaga. Dizem nos tornamos mais sábios; maior sabedoria é a da evolução, mais sábia não há não!
A menina de camiseta com coelhinho, corre de um lado para o outro, parece nunca chegar a seu destino. Mas onde iria querer ir uma criança como ela? Somente nós, os velhos adoentados, em nossa correria por dinheiro fama e poder, somente nós precisamos chegar a um lugar físico, pois essas crianças já descobriram o caminho para o melhor destino, a felicidade, que a nós velhos é tão rara, e a elas cotidiana.
A menina de camiseta de coelhinho para, olha o menino de tênis vermelho; este que em extinto natural, quase selvagem e animalesco, coloca-se a subir pela selva de canos, demonstrando sua força, agilidade e equilíbrio. Mostrando seus atrativos a quem o observa.
No outro canto o menino de boné azul observa acanhado, a nova vizinha de vestido florido no balanço, encantado com seu cabelo esvoaçante, brilhando ouro ao sol. Encanto de menino, que vê a beleza de outro modo. Ela talvez nem tenha se dado conta de sua presença, mas para ele, olha-la basta para trazer a felicidade. Loucuras do amor, que talvez somente ao coração das crianças consiga abençoar.
Quando jovem, acreditei que minhas paixões de infância eram apenas loucura, devaneios de criança, mas quando envelhecemos, descobrimos que muitas vezes aqueles foram os mais verdadeiros amores que tivemos. Amor por amor, amar por amar, e ser feliz por poder amar.
Agora o menino de tênis vermelho, já está no alto da selva de canos, dono do mundo, dono de seu medo de altura, dono de si mesmo. A vista é o premio de sua árdua escalada, mas creio que a menina de camiseta de coelhinho, está muito longe de seus olhos agora. Assim fazemos na vida, por diversas vezes, na tentativa de nos aproximarmos de alguém, usamos estratégias erradas, e acabamos nos afastando por atitude própria.
No banco do outro lado do parque, a mãe do menino de tênis vermelho, quase enlouquece diante do conflito que passa, observa aos nervos, seu filho como um louco arriscando-se a machucar-se, mas sabe que impedi-lo de fazer, seria condenar sua criança a covardia de nunca tentar. Tudo que lhe resta fazer, é puxar novamente para dentro do peito seu coração desesperado de mãe, segura-lo o mais firme possível, e engoli-lo novamente quando lhe vem à garganta.
Em meus tempos de escalada, sofria para atingir o alto de uma montanha, ou um paredão, enfrentava meu eterno medo de altura, que sempre me acompanhou, e talvez tenha o privilégio de viver mais do que eu, quando lá encima estava, nada mais importava, pois era a sensação de nascer, de estar morto por uma vida, e finalmente ter descoberto que poderia respirar, que podia ver, ouvir, sorrir, derramar lágrimas, pela simples certeza da vida.
Agora o menino de boné azul, vai até a gangorra, onde sua musa de vestido florido se encontra, triste por estar a brincar sozinha, enquanto seu desinteressado pai, no banco lê o jornal. Surpreende-me o garoto acanhado, que atrás da aba do boné escondia a vergonha, agora conversa com seu objeto de desejo. O que estariam a falar duas crianças de seus oito anos?
O menino de tênis vermelho, em sua tentativa de demonstrar poder escalando a selva de canos, foi distante o suficiente para desinteressar a dona da camiseta de coelhinho, que vendo o menino de boné azul, e a menina de vestido florido juntos, se aproxima dos dois. E assim é na vida, às vezes vale mais estar perto, do que ser forte e poderoso.
Agora o menino de tênis vermelho, sem platéia para assisti-lo, desce e vai para o balanço, como se procura-se o colo de sua mãe para consolá-lo. E assim somos nós os homens, quando as coisas dão errado, frequentemente estamos em busca do consolo de uma mulher, seja ela nossa mãe nós dando carinho, nossa esposa nos dando amor, uma irmã nos dando apoio, ou uma prostituta qualquer, nos vendendo seu corpo.
Certa vez em um prostíbulo, um jovem rapaz me disse, as melhores psicólogas são as putas, cuidam de nossa mente e de nosso corpo ao mesmo tempo.
Admiro em minha idade ainda ver crianças a se divertir jogando coisas uma para as outras, correndo sem chegar a lugar algum...??? Correndo sem chegar a lugar algum? Ou estariam passando por todos os lugares do mundo. Lugares que nem imaginamos poder-mos chegar. Difícil acreditar que em um mundo tão informatizado, crianças ainda queiram vir a um parque. Difícil acreditar que diante da loucura do dia a dia, do transito, da criminalidade, difícil acreditar que diante de tudo isso os pais ainda encontrem tempo e vontade de trazer suas crianças a parques e praças.
Distraído, chego a assustar-me quando uma menina de cabelos loiros trançados, senta-se ao meu lado. Ela me pergunta: – O que faz aqui? Respondo-lhe: – Vim ganhar um pouco de vida. – Como Assim? – Para alguém de minha idade, ver crianças como você brincando, trás novas forças para viver. Ela me olha nos olhos: – Por que queixa-se de sua idade? – Porque o tempo passa, e não temos como controlar o tempo. Ela me responde de imediato: – O tempo não controlamos, mas a nós mesmos sim, não temos como evitar que os anos passem, mas envelhecer é uma opção. Só é velho aquele que não consegue olhar uma criança com ternura, aquele que não consegue sorrir simplesmente porque alguém sorriu para ele.
Agora o menino de tênis vermelho saiu do balanço, vai para perto das outras três crianças, a menina da camiseta de coelhinho que somente olhava o menino de boné azul e a menina de vestido florido na gangorra, agora percebe que tem alguém para fazer par consigo, e o menino de tênis vermelho que tentara demonstrar ser forte, percebe que às vezes a fraqueza de buscar o outro é a atitude de maior força.
A loirinha de tranças me pergunta: – Tem filhos? – Não! – Por que não? – Nunca acreditei que o mundo é um lugar bom para crianças viverem. Ela sorri de modo inocente e afirma: – Talvez sejamos as únicas capazes de viver em um mundo tão mal! – Por que diz isso? – Porque nós as crianças, cremos em Papai Noel e coelhinho da Páscoa, os adultos não! Nós temos um mundo dentro desse no qual vivemos, isso nos faz felizes, em momentos que parece impossível a felicidade. Não nos importamos de falarmos sozinhas se temos vontade, aliás, nunca falamos sozinhas, nós apenas ainda lembramos como é falar e ouvir a nós mesmas, as crianças lembram de como é ouvir o próprio coração. Sabe por que crianças conseguem ser felizes por muito mais tempo que os adultos? – Não faço ideia, mas gostaria de ouvir a resposta. – Somos mais felizes, porque temos conosco algo mais valioso que tudo. – E o que é? – Nossa alma, temos conosco nossa alma, não a vendemos para um emprego, não trocamos por um carro novo, nem barganhamos nossa alma por uma casa de quatro quartos, por isso somos capazes de ser feliz.

– E quem é você? Lhe pergunto. Ela me responde: – Só uma criança que se entediou de brincar, viu um velho jogado em um canto, e decidiu matá-lo para não impedir mais a criança que mora em seu coração de renascer.

O EXISTENCIALISMO A PARTIR DE SARTRE, ESCRITO POR UM FREUDIANO

João Vitor Wrobleski

Pelas palavras de Sartre, o Existencialismo é taxado por diversas coisas, entre elas, é acusado de isolar o homem, e negar a “solidariedade” humana, em minha visão ainda atribuiria certa perversão a ele, segundo exatamente a visão psicanalítica, onde o perverso é aquele individuo estruturado a partir da satisfação na dor própria ou alheia ou em quebrar as regras. De certo modo é o que parece o viés Existencialista, pois me parece ser a abordagem mais cruel dentro da psicologia, ela atribui ao sujeito responsabilidade por todas as situações de sua vida.
Por que a resistência em aceitar e entender a abordagem Existencialista?
É natural do ser humano, por covardia, não assumir responsabilidade sobre seus atos. Talvez daí, a necessidade de um deus, alguém a culpar por nossos erros, e a ter como objeto de esperança para uma melhora de vida milagrosa, sem demanda de esforço. Mas segundo o Existencialismo Sartreano, não há a existência de nenhum deus a fazer o trabalho por ninguém, e nem atribuindo essência aos humanos. Tudo depende de nós mesmos.
Para Sartre e o Existencialismo de modo geral, a existência precede a essência. Isso significa que antes de existir-mos não somos nada, ou seja, primeiro existimos como indivíduos a partir da fecundação, para ai então formarmos nossa essência. Nos construirmos em convívio com o outro, é por meio de nossas decisões que damos forma a nossa essência. Sempre temos decisões possíveis de serem tomadas, por mínimas que estas sejam, ainda assim, o que decidimos é o que nos torna o que somos.
Para Sartre, o homem se forma por si mesmo e por suas decisões. Não somos o que queremos ser, mas somos o que decidimos ser. São nossas decisões que nos tornam e nos fazem. Sartre afirma, que a própria inércia é uma decisão, ou seja, você decidiu não fazer nada, desse modo é responsável pelas consequência de sua inércia.
Segundo Sartre, o Existencialismo não é pessimista, mas sim otimista, pois da ao homem condição plena de decisão acerca de sua vida. Porém para os humanos de modo geral, é mais fácil atribuir culpa das atitudes e desgraças a outrem, é muito mais fácil e cômodo culpar os pais por nossas condições atuais, como de certo modo fazemos na psicanálise, do que culpar a nós mesmos. Pois quando se atribui ao individuo a responsabilidade de mudar sua vida, ele é obrigado a trabalhar para mudá-la, ou a admitir sua covardia. Quanto à covardia, Sartre também o diz: é mais cômodo ao ser humano crer que ser covarde ou herói é uma questão de nascer como tal, mas a verdade existencialista é que, ser covarde ou herói, são resultados de nossas decisões. Tomamos decisões covardes, e isso nos torna covardes, não nascemos desse modo.
Segundo Brandelero, ainda quanto ao suposto pessimismo do Existencialismo; tratasse na verdade de um realismo, dando ao sujeito, a liberdade de fazer por si mesmo. Nas palavras dela, se referindo ao atendimento em clínica, pelo viés Existencialista, “Somos verdadeiros com o cliente, não desejamos torná-lo dependente do terapeuta, mas sim dar a ele a liberdade de resolver por si mesmo seus sofrimentos, e mais tarde se ele tiver um novo problema que não consiga resolver, irá nos procurar novamente, mas com uma nova questão, não o tornamos refém do terapeuta.” Brandelero ainda afirma que o Existencialismo não é uma simples abordagem, mas sim uma filosofia de vida, possível de se utilizar em seu dia-a-dia, para suas próprias tomadas de decisão.
Sobre a teoria, Sartre afirma a criação de uma teoria que se coloque a serviço do homem e não que coloque o homem a serviço da teoria (ALVES). Ainda Alves trás que segundo Sartre, ele não desejava criar necessariamente essa nova teoria, mas sim apenas demonstrar que é possível. “esta psicanálise ainda não encontrou o seu Freud [...] para nós o que importa é que seja possível.” (SARTRE, citado por ALVES).
Essa necessidade de atribuir ao sujeito mais responsabilidade, talvez seja fruto de uma época vivida por Jean-Paul Sartre, onde a psicologia Comportamentalista atribui o resultado do sujeito ao meio em que ele vive, e os estímulos fornecidos por esse meio, a Psicanálise Freudiana atribui à formação do sujeito ao inconsciente e o relacionamento do sujeito com as figuras de função paterna e materna. Mas onde está o sujeito nesta história? Hipoteticamente, e não sem sentido, Sartre se cansou de ver o sujeito como objeto, como ele mesmo deixa subentendido em O Existencialismo é um Humanismo. Sartre se cansa de ver o homem, como objeto de seu meio, ou de um inconsciente sem condições de falseabilidade. Então segue em contraposto total, atribui toda a responsabilidade sobre o individuo.
O homem deixa de ser vitima de um meio ou criação, para ser ator, criador de si mesmo.
Mestre Vanessa Brandelero falando sobre a vitimização, (Se colocar como vitima) afirma ser uma das piores formas de se posicionar dentro de uma visão Existencialista, pois ninguém, segundo a psicóloga, nos coloca na posição de vitima se não for de nosso interesse sustentar tal posição, ou seja, somente somos vitimas se quisermos ser.
Parece difícil imaginar esse tipo de trabalho direto com o cliente, em um campo clínico. Como dizer a uma mulher que foi estuprada, que o que ela fará desse sofrimento depende dela? Assim como uma mãe que perdeu o filho morto a tiros. É nesse aspecto que afirmo que o Existencialismo é perverso. Mas se analisarmos de uma maneira mais maquiavélica. Quais as alternativas de uma mulher que foi estuprada? Se ela não tomar para si à responsabilidade de trabalhar com essa dor, quem o fará por ela? O estuprador? Mesmo que sua família quisesse a ajudar, não pode saber o que ela sente; mesmo outra mulher que tenha sido violentada, não sabe o que ela sente, pois cada individuo tem sua singularidade, sua maneira própria de funcionar. Sendo assim, mesmo que duas pessoas passem exatamente pela mesma situação, cada uma delas irá sentir a seu modo, ninguém pode saber como o outro se sente. Então, se somente a mulher violentada sabe o que ela está sentindo, não é o mais obvio atribuir a ela a responsabilidade de trabalhar com isso? Sartre diz: “Não importa o que fizeram comigo, importa o que eu faço do que fizeram comigo.”
“O homem está condenado a ser livre” (Sartre). Segundo Sartre a não existência de um deus, condena o homem a ser livre, por tanto capaz de tomar suas próprias decisões, e sem ter como justificar suas atitudes a partir de uma essência imutável determinada por um ser superior. Não há natureza humana pré-determinada! Como um Freudiano; pessoal fã da Psicanálise; não posso negar o que minha infância me condicionou a ser, nem toda a carga cultural e social que trago comigo. Assim como ao estudar a Psicologia Evolucionista, tornasse impossível negar que trazemos informações genéticas importantes em nosso DNA.
Acredito na psicanálise, e entendo a importância das funções paternas e maternas em nossa vida, assim como entendo, e seria tolo negar, toda a carga genética que trazemos ao decorrer de milênios de evolução. Mas a pergunta restante é: Até onde somos obrigados a seguir tais determinações?
Discordo de Sartre em um aspecto, não creio que sejamos uma página completamente em branco quando nascemos, (Interpreto desse modo sua afirmação de o ser vir do nada) mas sim um grande livro com a primeira página preenchida pelo próprio código genético, e algumas páginas seguintes, são muitas vezes indevidamente preenchidas por nossos pais. Mas o que me obriga a seguir na mesma história? A partir do momento em que eu pego a caneta, nada me obriga as escrever as próximas mil páginas em função das primeiras. Tudo se torna decisão minha, basta matar os personagens, mudar o cenário, e seguir com o romance da forma que eu quiser. Nasci em uma família católica, mas do momento em que aprendi a pensar em diante, decidi ser ateu, e nada pode me impedir, mesmo tendo sido obrigado a engolir uma crença sem sentido, quando tomei uma decisão, não importou o que meus pais me enfiaram garganta abaixo, nem meu código genético. Mudar foi uma simples questão de decisão minha. Tomei a decisão e assumi as consequências dela.
O próprio Sartre, apesar de negar a existência do inconsciente, e formular sua ideia toda baseado simplesmente na consciência, ainda assim, não nega o valor de se estudar a infância, Sartre “nunca aceitou o inconsciente de Freud. Mas nunca negou a validade da investigação psicanalítica do passado de uma criança.” (GERASSI, citado por ALVES).
Estranho que duas escolas que parecem tão distintas como a Psicanálise e o Existencialismo, a mim não se contrarie tanto assim. Somos sim resultado de nossa infância, entender nossa infância a partir da Psicanálise, explica o que somos, mas não justifica. Pois após tomarmos consciência disso, ser o que somos, tornasse simples decisão nossa. Segundo a Psicanálise, não podemos mudar a estrutura que temos, mas a forma de funcionamento dessa estrutura nós determinamos.
A partir do momento em que compreendemos porque somos do modo que somos, basta uma decisão firme, para nos tornarmos o que decidirmos ser, Sartre e outros nos deram essa liberdade.

REFERÊNCIAS:

SARTRE, J.P; O Existencialismo é um Humanismo: Coleção os pensadores. Abril Cultural. 1978.

ALVES, L. C. R. A Psicanálise Existencial de Sartre Enquanto Olhar Alternativo para o Homem. Revista eletrônica de filosofia.

Aula com: Prof. Mst. Vanessa Brandelero, Psicóloga Existencialista. Atualmente ministrando aulas na Universidade do Centro-Oeste.


DESENVOLVIMENTO A PARTIR DE FREUD

UMA QUESTÃO DE SEXO.

Um dos pontos chaves do desenvolvimento da criança na visão de Freud (1997), está situado na sexualidade. A sexualidade, não está diretamente ligada ao ato sexual, isso por muitas vezes cria criticas leigas a respeito da obra de Freud, pois este se utiliza da palavra sexualidade, no sentido amplo, e completo, a sexualidade no ponto de vista psicanalítico consiste na busca do prazer.
Por exemplo: um individuo sente prazer ao alimentar-se, tal comida lhe desperta prazer pelo seu sabor, mas isso, em nada tem a ver, com o ato sexual. Pois o ato sexual é apenas uma forma de exercício da sexualidade, que é algo muito maior e amplo.

FASES: ORAL, ANAL E GENITAL.

Freud (1997) definiu o desenvolvimento da sexualidade infantil através de três fases: Oral, anal e genital.
A fase oral seria a primeira, devido sua importante funcionalidade na alimentação do sujeito, segundo Freud o bebê sente prazer na sucção, fator importante para a amamentação, esse prazer na sucção segundo ele, fica mais evidente ainda, quando a criança tem por habito, sugar “bico” (chupeta), onde mesmo sem haver nenhum tipo de alimentação envolvida no ato, ainda assim, a criança permanece na atitude. Isso somente poderia ser atribuída a uma sensação de prazer, já que não se vê outro beneficio no ato.
Sigmund Freud também trás em Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, como esse prazer permanece após a fase adulta, evidenciando-se tal em demonstrações de afeto tal qual o beijo na boca, onde a questão oral diretamente ligada ao prazer se faz presente.
Na fase anal, o bebê desenvolve o prazer no ato de defecar, o que irá gerar seu controle neste, e o possível abandono das fraldas. Isso porque ao deixar as fezes saírem de seu corpo a criança sente um prazer, que deseja prolongar, para tal, se faz necessário um controle muscular do esfíncter. O que se faz imprescindível para sua vida, pois gera o controle de uma atividade fisiológica.
A ultima fase, a genital, propicia ao bebê, seu controle urinário. Nesse momento a criança descobre o prazer na área genital em si, mas esse prazer não possui conexão com o ato sexual, o prazer é gerado ao a urina passar pelo duto, ou canal. Desse modo, a criança ira buscar reter a urina na bexiga o maior tempo possível, pois ao liberar esta, quanto mais cheia a bexiga estiver, mais intensa será a pressão gerada pela mesma ao passar pelo canal, sendo assim, maior será o prazer da criança. Conforme Freud (1997), posteriormente, a criança irá descobrir também a possibilidade do prazer advindo do toque, o que irá resultar mais tarde na masturbação, mas ainda assim, segundo o autor, e seus estudiosos posteriores, essa masturbação envolve apenas auto-erotismo, ou seja, em nada tem a ver com o sexo oposto, o mesmo sexo, ou outro individuo em si; a criança apenas esta descobrindo a si mesma através de sua sexualidade. Diferente da masturbação adulta, que em geral envolve fantasias com outro ser, no caso da criança, não há esse fator no inicio, ela apenas busca o prazer em si, e em seu corpo.

MAMÃE, PAPAI? OU FUNÇÃO MATERNA E PATERNA?

Das fases, passemos as funções: materna e paterna, que exercem fundamental importância no desenvolvimento segunda à perspectiva psicanalista.
Segundo Freud, e a psicanálise advinda deste, é a relação do individuo com a função materna e com a paterna, que irá determinar sua estrutura de funcionamento. Funções, aqui entenda-se, que podem ser exercidas por qualquer sujeito, sendo que, a mãe pode exercer função paterna, e o pai materna, ou um destes, desempenhar as duas funções. Para Freud e sua psicanálise, a função materna é a saciedade das necessidades da criança, e a função paterna, é a estrada da lei, ou seja, o sujeito que desempenha papel regulador, castrando o individuo. A castração, termo para definir a limitação, sendo o fator que fará com que a criança entenda que sua mãe e ela, são coisas distintas, e que suas necessidades, não serão saciadas de imediato. 
A castração, esse ato de limitar a criança, exerce o fator principal na constituição desta. Caso haja uma castração “bem sucedida”, a criança tende a se estruturar na neurose, a estrutura mais comum à sociedade atual. Caso essa castração seja feita de maneira fraca, e titubeante, essa criança tende a se estruturar na perversão. Mas não havendo a castração, essa criança se torna psicótica.
É importante entender, que para a psicanálise, não há uma estrutura correta, sendo assim, o sujeito que se estrutura na perversão ou psicose, mesmo não sendo a estrutura mais comum, ainda assim, este terá uma vida habitual e normal, ou pode ter um surto, exatamente como qualquer neurótico está suscetível. As estruturas, em nada têm a ver com doenças, até mesmo porque dentro da psicanálise, o conceito de doença é totalmente relativo, se trabalhando muito mais, com a ideia de sofrimento e não doença. Desejamos mudar o que nos faz sofrer, definido também por Freud, como buscar o prazer evitando o desprazer.
Para melhor compreensão, vamos entender adequadamente as estruturas.
* Neurose: É a estrutura mais convencional, na qual se encontra inserida uma boa parte da população, trata-se do sujeito que “neurisa”, pensa acerca de tudo, às vezes pensando até em exagero, sente remorso por fazer o que em sua concepção é errado. Isso ocorre com a castração bem sucedida do sujeito, o que lhe da uma noção clara, do que é certo e errado, por isso seu remorso ao fazer qualquer coisa que considere errada segundo sua cultura e inserção social. A estrutura mais comum de atender-se em clínica.
Dentro dela, se subdividem outras três subestruturas:
- Neurose Histérica: Onde o individuo manifesta sintomas no corpo. Ex: Um cão morde minha perna, toda vez que eu vejo um cão minha perna dói, ou paralisa.
- Neurose Fóbica: O sujeito manifesta o sintoma, o projetando em um objeto esterno a ele. Ex: Um cão me morde, eu passo a ter medo de cães, projeto em todos os cães, o medo que um especifico me causou.
- Neurose Obsessiva: O sujeito manifesta o sintoma em atos. Ex: Um cão morde minha perna, e eu passo a ter o habito de coçar a perna sem motivo. Conhecido TOC.
A próxima estrutura é a Psicose: Esta se forma quando não há castração, ou seja, o sujeito não foi desligado da mãe, ela permaneceu satisfazendo seus desejos, sem que o individuo fosse confrontado com a realidade. Esta estrutura também se subdivide em três:
- Esquizofrenia: Onde muitas vezes o sujeito manifesta seus pensamentos de maneira externa a ele, ou seja, é como se o que ele pensa, fosse outra pessoa, resultado de uma distinção conturbada entre ele e o mundo. Não fica bem claro a este, o que é do outro, e o que é dele próprio, por este motivo ocorrem às alucinações, que em verdade, são simplesmente, a manifestação da mente do próprio, mas que a ele, parece algo esterno a si.
- Melancolia: A tristeza exagerada, e desanimo da vida e da existência, caracterizam os sujeitos desta estrutura.
- Paranóia: Uma constante sensação de perseguição e conspiração, o sujeito sente que sempre há alguém próximo desejando seu mal.
A terceira estrutura, Perversão, é a mais difícil ocorrer atendimento em clinicas de psicologia, está ocorre quando a castração é feita de maneira fraca, “mal sucedida”, é aquela situação onde a mãe do individuo lhe impõe regras, mas ela mesma quebra essas regras, ou incentiva que o filho o faça. Ou então, o pai põe regras, e a mãe autoriza o filho a quebrar essas regras. Ex: O pai fala para o filho que não deve brincar na rua à noite, mas quando escurece sua mãe diz: “Pode brincar, mas a hora que seu pai estiver chegando venha para dentro.” Isso dá para a criança a sensação de que a regra não é valida, existe, mas não há problema em quebrar a regra, desde que não seja pego. Esta estrutura também se caracteriza pela sensação de prazer na dor. Seja ela a própria (Masoquismo), ou alheia (Sadismo). Essa estrutura, segundo Dor (1991) lendo Freud, além das duas formas anteriores citadas, uma equivalência da outra, também possui o Voyeurismo, com seu equivalente Exibicionismo. Constando tais como formas de perversão definidas por Freud e seus seguidores.
É importante novamente frisar que isso não é necessariamente ruim, pois alguém que se beneficia da dor alheia, pode ajudar quem sente a dor, como é o caso dos médicos, psicólogos, bombeiros... é necessário fortes traços perversos, para conseguir manter a calma, e ser racional, diante da dor do outro.
É claro, também é importante lembrar, que a suposta rotulação da estrutura, não existe, pois todos os sujeitos, mesmo estruturados dentro de um delas, ainda possuem traços das demais estruturas psíquicas. E mesmo das subestruturas. Um sujeito inteiramente psicótico, ou somente perverso, ou totalmente neurótico, é coisa de literatura. Não uma situação real, pois tornasse quase impossível a sobrevivência social de um sujeito que possua apenas uma estrutura psíquica.

COMPLEXO DE ÉDIPO.

Um dos motivos causador de revolta nas teorias de Freud, esta situado no complexo de Édipo. Não bastasse Freud trazer a tona à sexualidade infantil, ele ainda diz: que o filho deseja eliminar o pai e tomar a mãe para si. O que as mentes medíocres e superficiais que criticam essa afirmação, não compreendem, é que quando Freud se refere a tomar a mãe para si, não está fazendo referencia a atividade sexual, que é de se presumir que em mentes “pervertidas” segundo o senso comum, seria a primeira coisa que imaginam, quando Freud se refere a tomar a mãe para si, é no sentido de ter o carinho e atenção desta, somente para ele, sem precisar dividi-la com o pai.
Quando a castração ocorre de maneira bem sucedida, como já definido neste anteriormente, o complexo desaparece, com a criança compreendendo que ela não pode ter a mãe para si, ao menos não sem dividir sua atenção com o pai, e de certo modo, ela começa a entender, que a relação que a mãe tem com o pai, é diferente da que ela tem com a mãe.
É importante lembrar que o complexo de Édipo ocorre tanto no menino, quanto na menina, e diferente do que inicialmente se pensa, para ambos o objeto de amor é quem cumpre a função materna. Ou seja, não é que o filho vai querer tomar a mãe para si, e a filha o pai. Na verdade, se o filho recebe carinho e atenção às suas necessidades por parte do pai, vai querer tomar o pai para si, afastando a mãe do pai. O mesmo equivale à menina, se é a mãe quem atende as suas necessidades, a filha vai querer afastar o pai, tomando a mãe para si. O inverso também sendo valido. O pai atendendo as necessidades da filha, e a mãe do filho. Lembrando a discussão do tópico anterior, pai e mãe dentro desta visão psicanalítica, são funções, não refletindo necessariamente os genitores.
A situação na qual a filha deseja tomar o pai para si, mesmo esse exercendo função paterna, onde ela deseja substituir a mãe, é definida por Freud como complexo de Electra, mas segundo Freud, isso não é recorrente. Não sendo por tanto merecedor de analises mais profundas. Já que o mais comum, é que ambos, tanto menino quanto menina, “sofram” do complexo de Édipo, desejando tomar para si, seu primeiro objeto de amor, a função materna, seja esta exercida por quem for.

ID, EGO e SUPEREGO.

Aliado as estruturas psíquicas e a sexualidade infantil, temos o ID, EGO e SUPEREGO.
O ID seria uma questão inicial, onde o sujeito não tem a dissensão do que é o mundo e ele, sendo assim, “eu quero eu faço” não há noção de propriedade, nem clareza do outro, seria uma fase anterior à castração. Pode se dizer de maneira selvagem, que o sujeito psicótico permanece nesse período de ID.
O EGO é o momento em que a criança começa a ter distinção de que a mãe, o mundo e ela, são coisas diferentes. O responsável por isso, é a função paterna. Como já tratado aqui antes, esta função pode ser exercida pela própria mãe, ou inclusive por um irmão. Quando um irmão exerce a função castradora, pode se dar de duas formas básicas; na primeira, esse irmão é mais velho, e entra com a lei, dizendo a criança o que é correto ou não ela fazer; em uma segunda possibilidade, esse irmão é mais novo, e demanda da mãe uma atenção maior do que o mais velho, sendo assim, a mãe não estará disponível para o irmão mais velho de maneira imediata, demonstrando a este, que a mãe e ele são coisas diferentes.
O SUPEREGO é o momento em que a criança compreende, que esta inserida em uma sociedade e cultura, e que se faz necessário que ela tenha uma forma de agir esperada, e que controle suas pulsões, do contrario não será aceita.

LINGUAGEM

Lacan, quando em releitura de Freud, trás para discussão e tornasse ponto forte em seus estudos, a questão da linguagem, que segundo ele, é a única forma de se possibilitar o desenvolvimento do individuo, como o ser humano que conhecemos.
A seguir é possível perceber a grande importância que Lacan da à linguagem.


Quando a criança vem ao mundo, ela já se encontra marcada por um discurso, no qual se inscrevem a fantasia de seus pais, a cultura e a classe social a qual pertence.
Tudo isso constitui o campo do Outro, lugar onde se forma o sujeito. Por essa razão, Lacan não só insiste na exterioridade do simbólico em relação ao homem, mas, também, na sujeição do homem à linguagem. Isso se explica pelo fato de que a estrutura da linguagem preexiste ao sujeito; seja qual for a língua que tenha que aprender para se comunicar com seu entorno sócio-cultural, a criança não a modifica, pois, na verdade, tem que se submeter a ela (MILLER, 2002, p.20 citado por: GOMES 2009 p.4).

“Fica evidente, então, que a Psicanálise, na interpretação de Lacan, consiste em uma construção teórica em que os processos comunicacionais são centrais.” (GOMES, p.6. 2009)
Para Lacan, a criança tem emprestado da mãe, ou como já vimos função materna, o vocabulário que não lhe pertence, é a mãe quem atribui a criança os significados, e seus sentimentos, segundo a teoria Lacaniana, a criança não possui vocabulário para expressar sentimentos, sendo assim a mãe lhe empresta o dela, dizendo o que o bebê sente. Quando o bebê sorri, é comum a mãe dizer, o bebê esta feliz; ou quando o bebê chora, a mãe diz: bebê esta triste, ou com dor, enfim, nessa faze inicial de vida, os sentimentos da criança são representados pela mãe.
Esse tópico tem por finalidade apenas apontar para onde seguiu a caminhada dos estudos psicanalíticos de Freud, Lacan e outros, Freudianos declarados, deram continuidade a suas obras, realizando novas leituras, buscando rever conceitos.
Uma das pessoas que deu sequência também aos estudos de Sigmund Freud, e criou suas próprias teorias, sendo um nome referencia no tratamento infantil, foi Anna Freud, filha de Sigmund. Mas como dito antes neste, nossa função e intenção não é discutir o desenvolvimento definido pelos seguidores de Freud, a intenção estabelecida, creio já ter sido cumprida, que era expor de maneira breve, como Freud definiu o desenvolvimento infantil, a sequência de seus seguidores não lhe pertence, sendo exposta aqui apenas como um apontamento de direção, caso seja de interesse de alguém buscar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Tendo sido aqui cumprido o objetivo de expor de maneira breve o desenvolvimento a partir da visão Freudiana, e ainda apontando para onde esses estudos deram seguimento, consideramos esse trabalho encerrado!

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigumund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Imago. Rio de Janeiro, 1997.

DOR, Joel. Estruturas e clínica psicanalítica. Livrarias Taurus-Timbre Editores, Rio de Janeiro, 1991.

GOMES, Adriana de Albuquerque.

Linguagem e discurso na Psicanálise de Jacques Lacan. 2009. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/sertaozinho/revista/volumes_anteriores/volume1numero2/ARTIGOS/volume1numero2artigo1.pdf> Acessado em: 24/10/2014.

LEITURAS DE APOIO:

COSTA, Terezinha. Psicanálise com Crianças. Zahar 3º ed. Rio de Janeiro, 2010.

Jacques Lacan, o analista da linguagem. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/analista-linguagem-423050.shtml?page=1> Acessado em: 24/10/2014.

FERREIRA, Nadiá Paulo. Jacques Lacan: Apropriação e Subversão da Lingüística. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/agora/v5n1/v5n1a09.pdf> Acessado em: 24/10/2014.

VÍDEOS ASSISTIDOS PARA PRODUÇÃO DESTE TRABALHO:

A Sexualidade a partir da Psicanálise.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=mZ0rV1Ix40Y&feature=youtu.be> Acessado em: 24/10/2014

Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade de Freud – Introdução. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=aZSsUQ7yq8s&feature=youtu.be> Acessado em: 24/10/2014.


CRIANÇAS PRODUZIDAS PELA INDÚSTRIA

            Introdução:

      O presente trabalho tem por objetivo realizar uma analise acerca da visão que a sociedade atual (ano 2014) faz de suas crianças, mas principalmente, analisar a forma como a indústria atual vem bombardeando as crianças com sua publicidade, e descobrindo nelas, um novo cliente mais vulnerável, e manipulável.
      Para essa analise serão utilizados como material de pesquisa: recortes de revistas, publicidade impressa e pesquisas de bibliografias, bem como o artifício da internet.
     Através da analise do material, será buscado compreender, como as crianças e pré-adolescentes são vistos pela sociedade e pela indústria, a qual já percebeu o potencial consumidor que se encontra nesse publico.
  
      Indústria têxtil moda e lojas.

     A roupa infantil se altera de acordo com a época, bem como a adulta, que segue seus ciclos.
    Por volta do século XIII as crianças eram vestidas do mesmo modo que os adultos, como nos trás Philippe Aries (1981) em História social da criança e da família, “assim que a criança deixava os cueiros, ou seja, a faixa de tecido que era enrolada em torno do seu corpo, ela era vestida como os outros homens e mulheres de sua condição”. Ainda segundo o autor, a partir do século XIX que torna-se evidente as diferenças entre roupas infantis e adultas, pois em época medieval nada distinguia a roupa infantil e adulta se não o tamanho.
   Como é de se esperar de uma moda cíclica, (Moda, conceito atual) observamos novamente uma pouca diferenciação entre o traje infantil e adulto, se não, uma inversão de posições, como podemos analisar segundo o anexo: 01.
    A indústria têxtil segue tendências de venda, ou eventualmente cria suas próprias tendências, através de publicidade e jogadas de marketing.
    Com as crianças se espelhando nos adultos, ou seja, os utilizando como modelo de desenvolvimento (e nem sempre adultos que estão perto delas, e sim adultos da mídia. Principalmente televisão) parece à moda infantil estar novamente muito próxima do que sempre foi considerada a moda adulta, ao decorrer dos últimos anos. As crianças tendo cada vez mais feito valer sua opinião parecem ter cada vez menos interesse em vestir roupas com características infantis, como é o caso das roupas com estampas de personagens infantis, demonstradas no anexo: 02, páginas: 02, a 04, ou roupas coloridas, anexo: 02, páginas 08 e 09. A publicidade do anexo: 02 é pertencente à mesma empresa do anexo: 01, porém com uma diferença de um ano. Sendo o anexo: 02 de 2013 e o 01 de 2014.
     Vamos para a analise dos anexos. Como dito antes, no anexo: 02 podemos perceber a presença forte dos elementos infantis, como personagens de desenhos e contos, Barbie, Bem 10, Relâmpago Mc Queen e Marie, páginas 02 e 03. Porém no anexo: 01 a situação muda. Ainda no anexo: 02, para não fazer referência apenas à roupa de cama, peguemos os trajes propriamente ditos, (roupas) apresentadas nas páginas: 08 e 09, é perceptível tratar-se de roupas coloridas, com cores fortes e vibrantes (ano 2013), mas quando comparado ao anexo: 01, mais atual, percebemos que as roupas infantis apresentadas nas páginas: 24 a 27, apresentam cores mais sóbrias, como: preto, cinza, verde escuro, etc. Sem presença de personagens nem mesmo estampas infantis, demonstrada uma aproximação da roupa voltada para o publico adulto ou jovem do ano anterior. Já em contraponto a roupa jovem adulta parece seguir em direção contraria, no ano de 2014 apresentam-se extremamente coloridas e com presença de estampas chamativas, como apresentado nas páginas 01 a 23 do anexo: 01. Ou seja, as roupas infantis se tornam cada vez mais sóbrias, e próximas da adulto-jovem, enquanto esta segunda parece se “infantilizar” cada vez mais. Como dito antes, as crianças tomam por exemplo, os adulto, sendo assim tendem a buscar naturalmente uma aproximação deles, em atitudes e aparência. Daí a máxima “As crianças precisam mais de exemplos, do que conselhos” (Joubert).
     Em relação a esse desejo da criança e do adolescente de se tornar adulto, voltemos a atenção a um elemento de publicidade presente no anexo: 01, página 24. Encontramos a seguinte frase: “A Skinny agrada desde cedo as gatinhas mais antenadas.” Isso em uma página que apresenta uma roupa masculina voltada para uma criança ou pré-adolescente, um apelo claro a sexualidade em desenvolvimento do publico ao qual é direcionado o produto, mas ao mesmo tempo podemos ver nas páginas seguintes 26 e 27, elementos infantis no cenário. Uma utilização clara do conflito que o individuo sofre entre desejar ser adulto, mas sem querer deixar de ser criança, para fins lucrativos de venda. Atingindo esse individuo por ambos os lados. Lhe fornecem produtos com aparência adulta, mas sem deixar de incluir na publicidade algo infantil, da fase a qual ele tenta afastar-se gradativamente.
     Mas em busca de uma abrangência ainda maior de publico, a indústria têxtil, também possui ramos específicos para roupas tidas pelo senso comum como infantis, por mais que muitas vezes essas, agradem mais as mães, do que as crianças. Uma marca bastante famosa trata-se da Zig Zig Zaa, (disponível em: http://www.zigzigzaa.com.br/ acessado em: 23/06/2014) o vídeo de abertura do site, uma campanha publicitária de um minuto, deixa bastante clara a visão de criança tida pela empresa, ou a visão que a mesma quer repassar de criança, seu vídeo publicitário apresenta diversas crianças brincando, com bambole, cartola de mágico, se equilibrando em uma corda imaginaria, fazendo coisas tidas convencionalmente como de criança. Inclusive seu site, possui uma aparência extremamente infantil, com uma página de dicas de pedagogas. Uma clara utilização da criança como um público consumista, ou a utilização da visão que temos de criança, para fins consumistas. Mas os apelos consumistas direcionados a criança não param na indústria têxtil, não entraremos em mérito das indústrias de brinquedos e jogos, pois estas não apresentam novidades, desde seu principio, são voltadas diretamente ao público infantil. Mas alguns setores da indústria alimentícia, que em momento algum seriam ligados a este público, já estão se utilizando a algum tempo, de artifícios para atrair consumidores cada vez mais jovens.

         Indústria alimentícia.

      Uma coisa que surpreende de certo modo, é que a industria alimentícia também vem apelando para o publico infantil em áreas que costumeiramente, não era tido como produto voltado a crianças. Não nos surpreende um salgadinho frito, uma bolacha recheada, ou um pacote de balas, ter algum tipo de publicidade voltada ao publico infantil, pois são costumeiramente produtos consumidos mais, por estes mesmo. Mas o que dizer de patê de carne suína? Leite em caixa? Ou goiabada? Creio que de todos a goiabada seja o menos incomum, e que talvez remeta a criança em algo. No anexo: 04, vemos uma embalagem de patê, com a imagem de um desenho infantil muito famoso. The Flintstones ou na versão brasileira a qual passava em canal aberto de televisão, Os Flintstones. Logo em seguida no anexo: 05 temos parte de uma embalagem de leite, com a imagem de uma “vaquinha” muito feliz, uma imagem claramente infantilizada. Também no anexo: 06 Uma embalagem de goiabada, com a imagem do Piu-Piu, um canário da Warner Bros, que vive suas aventuras fugindo do gato Frajola, Piu-Piu ficou famoso pela frase “Eu acho que vi um gatinho”, um desenho muito famoso no Brasil, e esteve presente em diversos canais de televisão aberta.
     Percebemos nestes anexos, que a apelação ao publico infantil e clara e evidente, para não dizer “descarada”, há também de se dizer, que convencionalmente esses produtos são dispostos no mercado, à altura de um metro para baixo. Bem aos olhos das crianças, não que sejam produtos que elas não consumam, ou cause alguma estranheza o consumo deles por crianças. A questão é que, costumeiramente não se é compreendido tais produtos como sendo direcionados ao publico infantil. Mas a indústria alimentícia já se deu conta a muito tempo, da facilidade em iludir as crianças pelas imagens, e através delas convencer os pais (ou adultos) ao consumo.
  Essa temática foi abordada em sala de aula na matéria de Desenvolvimento, com a professora Maytê Coleto através de um filme assistido em sala, onde se discute essa questão, o quanto à indústria influi na visão que a sociedade faz de criança. Pois inevitavelmente a indústria, e principalmente a mídia tem uma forte influencia nas concepções de infância da sociedade atual, se alterando diversos conceitos antigos, deixando alguns de existir, e criando-se novos.

         Considerações finais
    Enquanto no Brasil não se tem leis que regulamentem os produtos e propagandas voltadas ao publico infantil, de maneira eficiente como ocorre em outros países, e nem se pode contar plenamente com a ética de alguns empresários, resta aos pais e responsáveis virar-se como podem diante do que seus filhos são submetidos. Que muitas vezes são simples propagandas de produtos como opções de escolha, em outras descarados apelos de consumismo, se utilizando de artifícios, “quase” imorais, manipulando sentimentos e desejos.
   É preciso que estejamos atentos, e não nos deixemos ser manipulados, e busquemos dar conhecimentos as nossas crianças, para que sim, aprendam desde pequenas a fazer suas escolhas, mas escolhas suas, e não de uma mídia que muitas vezes se demonstra irresponsável. Ou de empresas que agem em função exclusiva de seu faturamento.

       Referencias:

ARIES, Philippe.
História Social da Criança e da Família. LTC- Livros Técnicos e Científicos Editora S.A Rio de Janeiro - RJ. 1981.

Site da marca Zig Zig Zaa

(disponível em: http://www.zigzigzaa.com.br/ acessado em: 23/06/2014)


quinta-feira, 13 de julho de 2017

A METÁFORA DA CASA.

A psicanálise tem grande apreço pelas metáforas desde sua época freudiana, comparar a teoria a coisas de nosso cotidiano, é algo que facilita em muito a visualização dos conceitos. Para mim a comparação entre nosso psiquismo e uma casa, é uma das mais ricas metáforas, pois de maneira geral todos temos uma noção do que é uma casa, e também temos uma grande relação emocional com a ideia de lar, tornando essa metáfora de acesso a maioria, se não todos.
Nesse sentido, nosso psiquismo tem uma fundação, montada a partir do concreto fornecido por nossos cuidadores, em cima da qual nos estruturamos, na qual montamos as paredes com os tijolos que a sociedade nos fornece. Alguns tijolos nos são dados na escola, outra meia dúzia na casa de uma tia, mais meia dúzia em um acampamento de fim de semana, cada experiência vivenciada contribui com alguns tijolos para essas paredes, até o momento da castração, no qual a função paterna, ou para Lacan, o nome-do-pai, irá contribuir para essa construção que somos com o telhado, algo que de certo modo nos protege das intempéries, mas ao mesmo tempo nos limita, nos dizendo aqui é o mais alto, daqui você não pode passar.
Ao longo dos anos, vamos fazendo reformas nessa casa, casamos, o que nos obriga a ampliar a casa, construir mais um quarto aqui, talvez quebramos um pedaço da parede ali, para fazer uma nova porta ou janela, mas de maneira geral a fundação da casa permanece a mesmo, nos mantemos na mesma estrutura, por mais que oscilemos, ora com traços mais fortes de uma, ora de outra. Mexer na fundação dessa casa é quase impensável, pois teria que derrubar telhado e paredes, o que faria com que não sobrasse nada da casa, igualmente em nosso psiquismo, alterar uma estrutura, se o fosse possível, seria o equivalente a sumir com o próprio sujeito. Mas mesmo tendo essa fundação rígida, nada nos impede de pintar as paredes da casa, vez ou outra, trocar uma janela ou uma porta, movimentar os móveis dentro dela, muitas vezes até mesmo, após passar por um processo de analise acabar decidindo trocar os azulejos e talvez o forro. Nada é tão rígido e imutável quanto pode parecer.

Para entender como essa visão se aplica ao processo psicanalítico, assista ao vídeo.